quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Forum Social Mundial - perspectiva de uma acampada.

Algumas explicações iniciais: eu abandonei minha vida de desocupada há duas semanas, pra viajar junto com a faculdade pra Belém do Pará, na esperança de soluções pra um mundo melhor, que seriam ao menos teorizadas no Fórum Social Mundial.
O Fórum em si não foi de todo ruim, tenho mais críticas de logística do que de conteúdo mesmo. Mentira!
Foi mais ou menos assim: no site do fórum tinha toda a programação disponível para os participantes acompanharem e irem se interando antes do evento. Chegando lá, no primeiro dia recebemos toda a programação completa em um jornal que pesava quase 0,5 kg e a galera ficava pra cima e pra baixo com ele... Puro enfeite, muitas vezes chegávamos nas tendas ou nos palcos e a programação não batia com o que estava acontecendo na hora, ou a gente ficava ali e assistia/participava do que caiu do céu, ou simplesmente tentávamos correr atrás do prejuízo, procurando a bendita da palestra ou a apresentação, ou nem isso, chegávamos nas tendas e NADA estava acontecendo. Pois bem, as palestras que consegui assistir (não chegaram a cinco num período de 5 dias -28/01 a 01/02/09 ) a temática era boa, os palestrantes estavam seguros do assunto e uma em especial eu gostei bastante, tratava sobre a criminalização dos movimentos sociais (a mais crítica por sinal – das que eu vi), teve uma fala de um professor de filosofia da USP chamado Paulo Arantes que realmente me comoveu, dando uma nova análise a quem hoje em dia seria um criminoso, a um presidiário, e aos favelados, e marginalizados também, se não me engano fiz umas anotações, posto numa outra oportunidade. Essa palestra se propunha em descriminalizar os movimentos sociais, e após a finalização todos os presentes saíram em passeata condenado a posição do fórum de impedir a entrada de locais (os moradores de Belém só podiam participar das atividades se se cadastrassem, pagando uma taxa de R$15,00 a R$30,00 para terem livre acesso ao Fórum) Pergunto: na região norte, que só é visada pra extração de matéria-prima da floresta Amazônica, e no lugar que estávamos (as duas faculdades que sediaram o fórum ficavam no subúrbio de Belém) onde a desigualdade social é mais que explícita nem de olhos fechados podemos deixar de senti-la, como alguém teria grana pra pagar pela credencial do fórum? E por que realizaram o fórum no meio do Pará (com o tema mais escancarado – a Amazônia) se aqueles que vivem diariamente a realidade de morar/trabalhar no seio da floresta(ou quase lá) não podiam entrar e contribuir pra busca de soluções às perguntas que tanto infligem nós – seres humanos?!
Enfim, um palco de segregacionismo só! Eu disse palco? Pois, foi exatamente isso que o fórum foi pra mim, um verdadeiro teatro, onde nosso querido presidente deu as cartas pra solução da crise mundial (essa infelizmente não vou poder me estender mais porque não fui ao debate) junto com os amigos Chávez, Morales e afins. E nem sei se falaram na mesma língua... E onde as pessoas/palestrantes e manifestantes criticavam o uso irracional da água, faziam apologia a conscientização de uma política voltada para as questões ambientais e toda a etc posterior, a nós víamos o desperdício no banheiro comunitário de rios de água, e víamos pelas duas faculdades lixos jogados no chão, e nem vale dizer que foi a população de Belém, pois a cidade em si, era bastante limpa, fomos nós que sujamos mesmo! Palco onde os jovens criticavam o uso e abuso do capital e desse sistema, mas não deixavam de vender seu peixe em forma de blusas, bandeiras, ou briquinhos por lá. Pra mim foi válido pra eu repensar o que eu quero, em que acredito, se vale ou não a pena lutar por causas sociais, e minhas respostas internas não foram lá tão positivas. É péssimo pensar nisso, mas viver fazendo sua micro política diária é muito importante, mas só isso não faz diferença alguma. Já que sempre terá “alguéns” pra reverter o que vc andou tentando melhorar, e é cada vez mais difícil um diálogo sensível e sensato, com jovens e meias-idades e idosos cada vez mais rabugentos e alienados a realidade alheia, pois a sua realidade todos (dizem) ter a solução na ponta da língua. Eu não tenho a minha não, digo alto, e to procurando alguém pra construir um mundo diferente, nem vou falar melhor que já é clichê e pode até soar hipócrita, num sei até onde acredito num mundo melhor, mas diferente disso tudo sim, ainda sim...
Entre essas e outras, a gente via também a galera que não tava nem aí (sinceramente rapidinho virei um deles) que caía na gandaia nas noites dentro do fórum, e não precisávamos de artistas famosos, ou grande multidões para nos divertir. Apenas alguns instrumentos musicais, um pouco de boa vontade e energia pra tocar e dançar noite adentro, confesso que não era esse meu objetivo perante ao fórum, mas ou isso ou passar tudo em branco. Não fiz isso todas as noites também não, apenas duas das cinco, nas outras procurei descansar do dia e da viagem, já que fomos e voltamos de ônibus, grata ao Bob Sales.
Bem a parte boa da viagem, foi ter conhecido aquela bela cidade, de fabulosas pessoas hospitaleiras e muito agradáveis, e ter conhecido melhor algumas pessoas da minha própria faculdade, passar 6 noites e 5 dias dentro de um ônibus é um grande motivo pra virar amigo de infância! (ida e volta)
E viva! Viva a Cerpa (cerveja maravilhosa original de lá, até que eu vi vendendo long neck de Cerpa no Sacrilégio, aqui na Lapa,) viva Brahma fresh (ruiimm!) viva o açaí ‘salgado’ (ruiiim!!) e viva o banho de rio, viva a Saudosa Maloca e seu Manoel, viva o Ver-o-Peso, viva a barraca da Natália, viva o cremosinho de Cupuaçu (cremosinho é uma espécie de danoninho de todos os sabores possíveis que é vendido nas ruas de Belém a R$0,50 em mini pacotes de plático parecido com aquele leite de saquinho, só que 3 vezes menor) viva o Muiraquitã, viva aquelas pessoas que no último dia da viagem nos chamaram pra tomar uma cerveja dentro da casa delas , viva Terra Firme ( o bairro mais perigoso do Brasil !! que medo – odeio estatística!) viva as paradas longas na ida e na volta que renderam bons carteados e boas cervejas, viva a fala de dinheiro nas paradas, e viva o regresso e o carnaval do Rio, e que venha João Pessoa!
Estranho foi chegar a se adaptar a viver em um camping, passando os maiores perrengues possíveis, em Belém nessa época chove todos os dias (a famosa chuva das 15hs) e o acampamento em sua maioria era a céu aberto, ou seja, roupas úmidas e muito calor todos os dias. E depois ter que voltar pra casa, e após a renovação de espírito, ter de readaptar-se a essa rotina pré-carnaval e fim de férias. Acho que foi por isso que demorei tanto pra escrever e postar esse breve relato, e ainda não me acostumei, voltar a correr contra o tempo mesmo nas férias, e nesse fuckin’ calor do rio, não é nada agradável.

ps: não fiz revisão ortográfica, se tiver erro de digitação ou problemas mais sérios de gramática me perdoem. rs!

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