Ela morava em uma casa de quatro andares, além do subsolo, junto com toda sua família, composta por três ou quatro irmãos (um menino ainda criança e três irmãs mais velhas entre 17 e 25 anos) todos bastante parecidos com ela.Eu nunca tinha ido lá, e recebi um convite para passar o dia com ela, e levar todos os meus amigos. Chamo todos eles, e todos vão, mas estou com os olhos ofuscados, não sei se é a luz ou os efeitos da bebida, por um ou por outro, não consigo enxergar bem de jeito nenhum, e isto causa uma agonia sem fim, misturada a ansiedade do encontro. Chegamos ao local, entramos e toda aquela neblina confunde meu sentido, comprimento alguém pensando ser ela, e recebo um ácido "quem é você?" pergunto: "cadê ela?" "ah então é isso que ta acontecendo, ela escondeu da mamãe que iria ter festa em casa, espere minha mãe saber disto..." e subiu as escadas espiraladas acima, numa velocidade e agilidade impressionantes.
Então decidimos segui-la, no segundo andar, três quartos enormes: o primeiro, uma TV com um videogame esperando ser ligada, e pilhas de jogos ao lado. Foi nesse que ficamos, pois o quarto era enorme, além dessa primeira parte, tinha uma cama de casal ao fundo separada por uma cortina. Não quisemos saber o que havia nos outros dois. Então após algumas tentativas frustradas de jogar videogame, deixo a diversão para meus amigos e saio do quarto. Fico sentada no degrau da escada,quando ela abre a porta do terceiro quarto, o último antes do vão da próxima escada espiralada, e para completar grita: "Surpresa!” Levanto, vou até a porta do quarto encostamos nossos rostos, sinto cheiro de gordura de óleo, quando percebo que dentro do quarto há uma enorme mesa de salgadinhos, e doces, ao lado de duas geladeiras, daquele modelo de bar, com bebidas para todos os gostos. Ela avisa as pessoas no primeiro quarto, e todos parecem satisfeitos com a mesa de comida, as bebidas e o vídeogame, e ficam nesse vai-e-vem entre os dois quartos. Eu ainda não, mesmo depois de descobrir que ela tinha armado uma festa surpresa de aniversário pra mim dentro de casa e sem autorização da mãe, que inclusive nesse momento passa pela gente, me olha como se fosse um monstro. Na verdade, ela que é um monstro, uma mulher baixinha, com cabelo grisalho, liso, preso na altura da nuca, e que se alonga um pouco até a metade da cintura, usa uma saia longa e veste uma bata branca encardida de mangas longas, parece mais uma bruxa do medievo que qualquer outra coisa, é difícil de acreditar que é mãe dela. Ouço a mãe dizer: "seu pai, não vai gostar nada disso, sua irmã foi avisá-lo, e ele esta no quarto." "no quarto do quarto, ou no quarto do terceiro?" "no do quarto, certamente." Não entendi o que isto poderia significar, estava entrando num estágio mais letárgico, pensando no que poderia me acontecer, se aquela mulher horrenda já tinha cismado comigo, o pai fatalmente também tomaria partido da história, e não seria jamais pro nosso lado. Mas ela vem ao meu encontro, estava sentada no degrau da escada, me leva então pro quarto do terceiro. O único quarto do andar. Abre a porta, e parece que lá é um mundo a parte, quando passo pela porta minha visão regressa a normalidade aos poucos, ficamos ali conversando deitadas em outra cama, enorme por sinal. Ela de cabeça pra baixo, quando um dos convidados entra no quarto, e pergunta se pode ficar com a gente ali. Peço pra ele se acomodar a melhor maneira, e ela pede pra ele se acomodar de modo a nos esconder da porta de entrada, já demos a mão há horas, e há horas que falamos com o rosto a menos de dez centímetros de distância. Ela põe um dedo em meus lábios, e no momento que me aproximo para beijá-la, o "agora não" soa tarde demais em meus ouvidos. Foi o único beijo, pra porta se abrir e nos flagrarem fazendo nada demais, no meu ponto de vista. Mas estavam espiando, desconfiando e aguardando o momento certo para terem provas do que fazíamos. A mãe dela só faltou derrubar a porta, entrou no quarto e a mandou pra cima, conversar com o pai, que na minha cabeça já virou um semideus com poderes controladores do tempo e espaço, e capaz de acabar com vidas humanas com um estalar de dedos. Não sei o que lhe aconteceu.
Levanto após o susto, ela não olha pra trás corre escada acima, e junto com meu amigo, corremos quarto afora. Quando piso no corredor pra descer correndo, minha visão ofusca novamente nada vejo, caio da escada e dou de cara com as pessoas. Meus convidados a essa altura comendo como loucos toda a mesa de salgadinhos e doces, percebo que sinto uma fome profunda, e fico em dúvida se paro pra comer ou corro pra me salvar. Fico em pé em frente à mesa, após alguns empurrões, agarro quantas mini coxinhas consigo, envolvo na blusa, e saio correndo pra fugir dali. Nessa hora ouço ruídos e conversas, mas não entendo uma palavra que as pessoas falam, meu amigo que estava no quarto, está atrás de mim, é o único que eu acho que sabe o que está acontecendo e o único que vem me ajudar, quando chego a frente da última escada. Ela está parada no meio, sobe me olha e esbraveja: "nunca mais olha pra mim!" Não entendo o porque de tanto ódio. "sua mãe é louca, e você ta indo na pilha dela? Vai pirar igual a ela, e não quero presenciar isto mesmo não." Neste momento as irmãs passam em conjunto todas olham com cara de reprovação para ela, e uma cospe na cara do meu amigo. Meu amigo devolve o cuspe, me puxa e descemos correndo. Lá fora tudo está branco, não consigo identificar um objeto sequer. Volto pra dentro, e no fim da escada encontro de volta com ela. Ela me olha, me beija na testa, fala que meus olhos estão muito avermelhados, e que ninguém tem culpa de nada.
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