terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Festa Surpresa

Ela morava em uma casa de quatro andares, além do subsolo, junto com toda sua família, composta por três ou quatro irmãos (um menino ainda criança e três irmãs mais velhas entre 17 e 25 anos) todos bastante parecidos com ela.Eu nunca tinha ido lá, e recebi um convite para passar o dia com ela, e levar todos os meus amigos. Chamo todos eles, e todos vão, mas estou com os olhos ofuscados, não sei se é a luz ou os efeitos da bebida, por um ou por outro, não consigo enxergar bem de jeito nenhum, e isto causa uma agonia sem fim, misturada a ansiedade do encontro. Chegamos ao local, entramos e toda aquela neblina confunde meu sentido, comprimento alguém pensando ser ela, e recebo um ácido "quem é você?" pergunto: "cadê ela?" "ah então é isso que ta acontecendo, ela escondeu da mamãe que iria ter festa em casa, espere minha mãe saber disto..." e subiu as escadas espiraladas acima, numa velocidade e agilidade impressionantes.

Então decidimos segui-la, no segundo andar, três quartos enormes: o primeiro, uma TV com um videogame esperando ser ligada, e pilhas de jogos ao lado. Foi nesse que ficamos, pois o quarto era enorme, além dessa primeira parte, tinha uma cama de casal ao fundo separada por uma cortina. Não quisemos saber o que havia nos outros dois. Então após algumas tentativas frustradas de jogar videogame, deixo a diversão para meus amigos e saio do quarto. Fico sentada no degrau da escada,quando ela abre a porta do terceiro quarto, o último antes do vão da próxima escada espiralada, e para completar grita: "Surpresa!” Levanto, vou até a porta do quarto encostamos nossos rostos, sinto cheiro de gordura de óleo, quando percebo que dentro do quarto há uma enorme mesa de salgadinhos, e doces, ao lado de duas geladeiras, daquele modelo de bar, com bebidas para todos os gostos. Ela avisa as pessoas no primeiro quarto, e todos parecem satisfeitos com a mesa de comida, as bebidas e o vídeogame, e ficam nesse vai-e-vem entre os dois quartos. Eu ainda não, mesmo depois de descobrir que ela tinha armado uma festa surpresa de aniversário pra mim dentro de casa e sem autorização da mãe, que inclusive nesse momento passa pela gente, me olha como se fosse um monstro. Na verdade, ela que é um monstro, uma mulher baixinha, com cabelo grisalho, liso, preso na altura da nuca, e que se alonga um pouco até a metade da cintura, usa uma saia longa e veste uma bata branca encardida de mangas longas, parece mais uma bruxa do medievo que qualquer outra coisa, é difícil de acreditar que é mãe dela. Ouço a mãe dizer: "seu pai, não vai gostar nada disso, sua irmã foi avisá-lo, e ele esta no quarto." "no quarto do quarto, ou no quarto do terceiro?" "no do quarto, certamente." Não entendi o que isto poderia significar, estava entrando num estágio mais letárgico, pensando no que poderia me acontecer, se aquela mulher horrenda já tinha cismado comigo, o pai fatalmente também tomaria partido da história, e não seria jamais pro nosso lado. Mas ela vem ao meu encontro, estava sentada no degrau da escada, me leva então pro quarto do terceiro. O único quarto do andar. Abre a porta, e parece que lá é um mundo a parte, quando passo pela porta minha visão regressa a normalidade aos poucos, ficamos ali conversando deitadas em outra cama, enorme por sinal. Ela de cabeça pra baixo, quando um dos convidados entra no quarto, e pergunta se pode ficar com a gente ali. Peço pra ele se acomodar a melhor maneira, e ela pede pra ele se acomodar de modo a nos esconder da porta de entrada, já demos a mão há horas, e há horas que falamos com o rosto a menos de dez centímetros de distância. Ela põe um dedo em meus lábios, e no momento que me aproximo para beijá-la, o "agora não" soa tarde demais em meus ouvidos. Foi o único beijo, pra porta se abrir e nos flagrarem fazendo nada demais, no meu ponto de vista. Mas estavam espiando, desconfiando e aguardando o momento certo para terem provas do que fazíamos. A mãe dela só faltou derrubar a porta, entrou no quarto e a mandou pra cima, conversar com o pai, que na minha cabeça já virou um semideus com poderes controladores do tempo e espaço, e capaz de acabar com vidas humanas com um estalar de dedos. Não sei o que lhe aconteceu.

Levanto após o susto, ela não olha pra trás corre escada acima, e junto com meu amigo, corremos quarto afora. Quando piso no corredor pra descer correndo, minha visão ofusca novamente nada vejo, caio da escada e dou de cara com as pessoas. Meus convidados a essa altura comendo como loucos toda a mesa de salgadinhos e doces, percebo que sinto uma fome profunda, e fico em dúvida se paro pra comer ou corro pra me salvar. Fico em pé em frente à mesa, após alguns empurrões, agarro quantas mini coxinhas consigo, envolvo na blusa, e saio correndo pra fugir dali. Nessa hora ouço ruídos e conversas, mas não entendo uma palavra que as pessoas falam, meu amigo que estava no quarto, está atrás de mim, é o único que eu acho que sabe o que está acontecendo e o único que vem me ajudar, quando chego a frente da última escada. Ela está parada no meio, sobe me olha e esbraveja: "nunca mais olha pra mim!" Não entendo o porque de tanto ódio. "sua mãe é louca, e você ta indo na pilha dela? Vai pirar igual a ela, e não quero presenciar isto mesmo não." Neste momento as irmãs passam em conjunto todas olham com cara de reprovação para ela, e uma cospe na cara do meu amigo. Meu amigo devolve o cuspe, me puxa e descemos correndo. Lá fora tudo está branco, não consigo identificar um objeto sequer. Volto pra dentro, e no fim da escada encontro de volta com ela. Ela me olha, me beija na testa, fala que meus olhos estão muito avermelhados, e que ninguém tem culpa de nada.

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